Lançada em 1998, a Fiat Strada é um dos modelos comerciais de maior sucesso. Líder absoluta, picape completa 22 anos de mercado com direito a nova geração que será apresentada em 2020
Por Marcelo Ramos
Nos Estados Unidos existe um romantismo em relação a picapes. São os veículos mais vendidos daquele mercado há décadas. E não é raro ler ou ouvir que o país foi construído na caçamba de picapes. Aqui no Brasil, talvez a história seja diferente, mas é fato que a Fiat se constituiu na caçamba de uma picape, a Strada.
Mas antes de falar da Strada é preciso voltar no tempo. A
marca italiana foi pioneira nesse segmento, quando criou a 147 Pickup em 1978.
Era uma solução eficaz para quem precisava de uma caçamba mas não tinha espaço
ou não podia pagar por uma Ford F-1000 ou Chevrolet D10.
Não tardou para a concorrência se movimentar e surgiram
modelos como Ford Pampa, Volkswagen Saveiro e Chevrolet Chevy. Todas
desenvolvidas a partir de modelos já existentes: Corcel II, Gol e Chevette. A
resposta da Fiat veio com a segunda geração, derivada do Uno e manteve bom
desempenho, muito em função da suspensão traseira com feixe de molas.
Mas chega de falarmos do passado e voltemos à Strada. A
picape chegou ao mercado em 1998, como integrante da família Palio. Não é
surpresa de que o Palio nunca conseguiu aposentar o Uno, de primeira geração.
Mas a Strada não demorou para se estabelecer e se tornar líder de seu segmento.
Status que preserva até hoje.
Assim como a Fiorino Pick-Up, derivada do Uno, a Strada
chegou apenas na configuração de cabine simples e herdou o conceito de
suspensão com feixe de molas. A maior caçamba permitia maior volume de carga e
o motor 1.5 de 76 cv, da versão Working, atendia às expectativas de quem
precisava encher o bagageiro. No entanto, assim como o Palio, ela também
contava com blocos 1.6 8v de 92 cv e o nervoso 1.6 16v de 106 cv.
Por dentro, a Strada repetia o layout do Palio. Para época a
picape bastante sofisticado, com direito ao rádio (com toca-fitas) exclusivo da
Fiat. Opção de ar-condicionado e vidros elétricos.
Rivais
Naquela época a Strada tinha dois rivais de peso: a picape
Corsa e a segunda geração da Saveiro (em linha até hoje, em sua terceira
geração). As duas tinham perfil mais jovial que a Strada e faziam sucesso entre
o público jovem. A Saveiro que ainda contava com uma janela espia, que dava a
entender que ela tinha mais espaço atrás do banco. Mas na verdade era um
recurso para encaixar as portas dianteiras do Gol e Parati, com quatro portas.
No entanto, o artifício da VW acabou servindo de inspiração
para os italianos, que foi o divisor de águas da Strada. Em 1999 a Fiat teve
uma grande sacada que foi reduzir parte do volume da cabine e estender a
caçamba, com um compartimento de bagagem interno sobre o tanque de combustível.
A possibilidade de levar pertences dentro da cabine caiu no
gosto do consumidor que precisava de uma caçamba, mas também um carro para o
uso cotidiano. O compartimento permite levar até duas malas médias, o que
resolvia também o problema de quem precisava viajar e não deixar a bagagem
exposta na caçamba. Foi o “pulo do gato” para assumir a liderança do
mercado.
Reestilização
Em 2001 a Fiat iniciou a reestilização da linha Palio. O
hatch recebeu novos faróis, lanternas, para-choques, capô e tampa do
porta-malas. Por dentro, atualizou o painel, mas sem alterar a arquitetura. A
novidade vinha com a inclusão de CD player. Junto do Palio, os irmãos Siena,
Weekend também foram rejuvenescidos. A mudança da Strada veio em 2002.
Junto do novo visual, a picape também passou a contar com a
versão Adventure, exclusiva para a cabine estendida e equipada com motor 1.6 de
106 cv. Nessa época também surgiu o novo motor 1.8 8v de 108 cv, fruto da união
entre Fiat e General Motors. O bloco trazia mais torque à Strada.
Dois anos depois, já consolidada na liderança, a Strada
passou por nova atualização, acompanhando dos demais irmãos. Era a chamada
“geração bolha”, devido ao formato dos faróis de parábola dupla.
Novas para-choques e lanternas completavam a plástica.
Por dentro, a picape passou por nova plástica, e mais uma
vez manteve a mesma disposição de equipamentos como sistema de som ao alto,
acima dos difusores e comandos da refrigeração próximos do porta-objetos.
No ano seguinte, a Fiat incluiu o motor 1.4 Fire de 85 cv,
motor que é mantido em linha até os dias de hoje.
Locker
Em 2008, a Strada passou por sua terceira reestilização,
marcada pelos novos faróis, para-choques e lanternas traseiras que se estendiam
para tampa da caçamba. A versão Adventure ganhou novos elementos estéticos que
deixava seu visual mais robusto, como novas molduras dos para-choques,
santo-antônio emoldurado e estribos.
Por dentro, mais uma plástica no painel, mas sem alterar a
disposição dos instrumentos. A novidade ficava por conta de inclinômetros
(longitudinal e lateral) e uma bússola. A versão também recebeu bloqueio de
diferencial Locker.
Tratava-se de um recurso para ampliar a capacitação fora de
estrada da picape e também da irmã Weekend Adventure. Naquela época utilitários
compactos como EcoSport e Tucson estavam em alta, com suas versões 4×4, assim
como o Pajero TR4.
Cabine dupla
A Strada há muito já tinha se consolidado no mercado. Mas a
Fiat sabia que não podia ficar deitada sobre berço esplêndido. E da mesma forma
que em 1978 mirou nas picapes grandes da época, em 2009 ela se espelhou nas
médias para dar seu segundo “pulo do gato”. Foi nesse ano que a Fiat
lançou a Strada cabine dupla.
Era a solução para não apenas para aquele consumidor que
tinha a picape como o carro da família. Precisava da caçamba para trabalhar ou
para uso de final de semana, mas também precisa carregar sua família. No
entanto, o banco traseiro só levava dois ocupantes e não três como nos demais
automóveis. Mesmo assim, era uma solução bastante satisfatória
O modelo se tornou um sucesso, e a opção de caçamba que
tinha a Adventure como carro chefe, também era oferecida em outras versões, o
que fazia dela um carro de trabalho funcional para empresas que precisam
transportar equipes e equipamentos na caçamba.
E-torQ
Em 2010, a Fiat incorporou os motores E-torQ em sua gama. A
unidade 1.6 16 de 116 cv e 1.8 16v de 132 cv chegaram para substituir o antigo
1.8 da GM. Também eram opções para o Punto e posteriormente, o bloco 1.8
equiparia o futuro Bravo.
Para a picape era destinada o motor de maior potência, que
equiparia a versão Adventure. Neste ano, a Fiat também lançou a versão
Sporting, que seguia o padrão adotado em modelos como Palio, Punto, Stilo, Siena
e até mesmo no monovolume Idea.
O resultado era interessante. A picape recebeu novas
molduras de para-lamas, integradas a uma saia lateral, novos para-choques,
faróis com máscara negra. Tudo isso deixava a picape bem invocada para quem
buscava um estilo mais esportivo.
Já em 2011 foi a vez de a picape receber a transmissão
automatizada Dualogic. A caixa já tinha sido empregada em modelos como Stilo e
Punto. No ano seguinte, com motor novo e opção de transmissão sem pedal,
restava apenas uma leve plástica. Dessa vez a intervenção foi bem mais leve.
Três portas
A Strada cabine dupla tinha se mostrado satisfatória como
uma opção híbrida entre carro de passeio e veículo de carga. No entanto, era
sabido que o acesso à fileira traseira era pouco prática. Afinal, o brasileiro
já tinha desabituado a andar em automóveis duas portas.
No entanto, colocar mais duas portas na Strada demandaria
modificações nos chamados hardpoints do carro, que são os limites onde podem
ser feitas intervenções. Para tal seria necessário uma nova carroceria. Algo
que estava fora de cogitação no cronograma de desenvolvimento da marca.
A solução foi olhar mais uma vez para o que o mercado já
havia feito. A solução foi adotar um sistema de terceira porta
“suicida” (abrindo em ângulo contrário) o que permitia um grande vão
de acesso pela direita. Trata-se da mesma solução que Ford já tinha aplicado na
Ranger Crew Cab, anos antes.
Para poder tornar viável, a Fiat preciso fazer pesados
reforços estruturais para impedir a torção da carroceria. Trata-se de uma
solução que está em voga até hoje. Apesar da terceira porta, a lotação seguiu
restrita a quatro passageiros apenas.
1 milhão
A terceira porta foi uma decisão acertada, a ponto de a Fiat
ampliar a opção para a versão Hard Working, equipada com motor Fire 1.4. Neste
ano, a picape atingiu a marca de 1 milhão de unidades vendidas. Ou seja, a
Strada anotava média de 71 mil unidades anuais. Um volume expressivo para um
utilitário.
Para se ter uma ideia da popularidade da picape, em março de
2015 a Strada foi o modelo mais vendido do Brasil. Foram 9.946 unidades,
segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores
(Fenabrave). Volume que desbancou modelos como o Onix (que iniciou seu reinado
em 2015), HB20 e o Palio, que tinha sido o carro mais vendido em 2014.
Em 2016, a Fiat ampliou o portfólio com a versão Working que
poderia receber as três opções de carroceria: simples, estendida e dupla. Já em
2017, foi a estreia da versão Freedom, que adotava a mesma nomenclatura do
portfólio da Toro.
A Freedom se mostrava uma versão equilibrada, em termos de
conteúdos e valores. A aceitação positiva estimulou a ampliação do leque da
versão para a carroceria cabine simples, em 2018.
Daí em diante a Fiat acelerou o processo de desenvolvimento da segunda geração da picape, que deveria ter sido lançada em abril. No entanto, em função da pandemia do novo coronavírus Covid-19, sua apresentação oficial foi suspensa e deve acontecer até julho.
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