Lina Rosa Gomes Vieira da Silva, autora do livro Bichos Vermelhos, é muito mais do que uma escritora estreante: é uma das vozes mais atuantes do grupo nacional de trabalho Cultura Infância, coletivo dedicado a pensar, fortalecer e valorizar as infâncias brasileiras em sua pluralidade e riqueza. Sua trajetória é marcada pelo engajamento em projetos que cruzam arte, educação, políticas públicas e cidadania cultural.
Ao estrear na literatura, a autora não escreve “para” crianças de forma genérica — ela escreve “com” elas, trazendo para a obra o olhar sensível de quem já dialoga há anos com esse público e entende suas potências, curiosidades e urgências. Saiba mais sobre ela, a seguir!
Como um tema complexo foi transformado em poesia acessível?
A escolha de Lina Rosa Gomes Vieira da Silva de tratar da biodiversidade brasileira e dos riscos à fauna em um livro infantil poderia facilmente cair em armadilhas de linguagem excessivamente técnica ou didática. Mas não. Com delicadeza e uma dose generosa de humor e lirismo, a autora transforma o tema da extinção em um convite à descoberta e ao encantamento.

Sua estreia já nasceu com força e reconhecimento. A primeira edição do livro esgotou-se rapidamente e agora a segunda tiragem, com 2.000 exemplares, confirma o impacto da obra no cenário da literatura infantil brasileira. Publicado pela editora Aletria, de Belo Horizonte, o livro recebeu elogios entusiasmados tanto pelo conteúdo quanto pela proposta estética.
Como o projeto gráfico potencializa a mensagem do livro?
Um dos grandes trunfos de Bichos Vermelhos é o seu projeto gráfico. A capa com acabamento aveludado, as ilustrações vibrantes, e especialmente os animais em engenharia de papel 3D transformam a leitura em uma experiência sensorial. Não se trata apenas de um livro para ler, mas para tocar, montar e interagir. Essa proposta visual e tátil reforça o que Lina Rosa Gomes Vieira da Silva deseja: trazer a criança para perto dos animais ameaçados de extinção, criando vínculos afetivos que extrapolam a leitura.
Contudo, o envolvimento dela com as infâncias não começa com a publicação do livro — ele é o resultado de anos de atuação em projetos que colocam as crianças no centro das discussões culturais e sociais. Seu compromisso é evidente na forma como pensa e constrói suas obras: não há concessão ao simplismo, tampouco à condescendência. Ao contrário, ela acredita na potência crítica e criativa das crianças, e sua escrita reflete isso.
Por que a obra é também um manifesto ecológico?
A fala de Rosana Mont’Alverne, editora da Aletria, revela o caráter manifesto de Bichos Vermelhos. Em meio aos desastres ambientais em Minas Gerais, à devastação da Amazônia e ao agravamento da crise climática, o livro aparece como um chamado à ação. Ele não se limita a informar: ele se mobiliza. Ao transformar os dados da extinção em narrativas poéticas, Lina Rosa Gomes Vieira da Silva coloca a natureza no centro da experiência estética e convida as crianças a tomarem partido.
Esse é um dos grandes méritos da autora: sua habilidade em combinar conteúdo lítero-informativo com uma escrita sensível e fluida. A obra transmite dados relevantes sobre os animais da lista vermelha da IUCN sem perder a leveza. O equilíbrio entre o rigor da informação e a liberdade poética é um diferencial que a coloca em um lugar raro no mercado editorial infantil. É literatura com base científica e ciência com alma de poesia.
Em suma, se a estreia de Lina Rosa Gomes Vieira da Silva já foi marcada por inovação, beleza e impacto, o que se pode esperar é uma trajetória literária que continue expandindo os limites entre literatura, educação e arte. Sua voz é necessária em tempos em que precisamos reimaginar nossas relações com a natureza, com o outro e com a infância. Bichos Vermelhos é só o começo: uma obra que se destaca não apenas pelo tema, mas pela forma como escolhe abordá-lo, propondo uma infância sensível e crítica.
Autor: Maxim Fedorov