Só 7 marcas teriam carro popular em 2023; veja quais são

Jorge Ghezier Por Jorge Ghezier

Ao contrário dos anos 90, muitas montadoras desistiram do carro barato e básico, por isso apenas 7 ou 9 modelos se encaixariam

A volta do carro popular na faixa de R$ 45 mil a R$ 50 mil é um tema que interessa à Fenabrave, mas não tem adesão total das montadoras, tampouco da Anfavea, e ainda divide o governo. Devido às exigências da legislação e dos próprios consumidores, as entidades envolvidas ainda não chegaram a uma fórmula que viabilize um novo carro popular ou um carro de entrada acessível.

Mesmo que o projeto avance, entretanto, as opções não serão muitas. Somente sete marcas de automóveis poderiam trabalhar rapidamente num carro popular para 2023 – e eles não passariam de nove modelos. As marcas são: Chevrolet, Citroën, Fiat, Hyundai, Peugeot, Renault e Volkswagen.

Os carros seriam estes: Onix Hatch, Novo C3, Mobi, Argo, HB20, 208, Kwid, Stepway e Polo Track. Veja a seguir, marca por marca, como cada carro poderia se encaixar como popular e qual o real interesse de cada marca.

Chevrolet Onix – A GM parou de produzir o Onix da primeira geração, que se tornou líder de vendas no país na década passada. Seu único carro seria o Novo Onix Hatch com motor 1.0 aspirado de 78/82 cv. Esse carro tem uma série de itens de segurança e conforto que teriam que ser tirados para viabilizar o preço, como airbags laterais e de cortina, assistente de partida em rampa e limitador de velocidade. Mas isso vai contra a atual filosofia da GM.

Citroën C3 – Este seria um dos carros mais fáceis de entrar no programa, pois já nasceu com o conceito de carro barato. Usa o motor 1.0 Firefly da Fiat, que tem 71 cv com gasolina e 75 cv com etanol. Tem apenas dois airbags, mas teria que perder monitoramento de pressão dos pneus e assistente de partida em rampa, por exemplo. E os pneus e as rodas poderiam ser mais finos e menores do que 195/65 aro 15.

Fiat Mobi e Fiat Argo – Na visão da Stellantis o Fiat Mobi é um carro popular na essência. O motor 1.0 tem 71/74 cv. A versão Easy saiu de linha porque era “pelada” e ninguém comprava. Poderia voltar com uma forte redução de impostos e de lucros. Outra opção da marca seria o Fiat Argo, que tem um porte maior, a mesma motorização, e seria mais competitivo perante alguns modelos concorrentes. Mas a grande aposta seria mesmo no Mobi.

Hyundai HB20 – O hatch coreano nunca teve histórico de carro popular, mas nesta geração tem uma versão bem mais em conta do que as demais (Sense 1.0). O motor tem 75/80 cv (gasolina/etanol). Assim como o Onix, o HB20 popular poderia perder os airbags laterais e de cortina, além de controle automático de velocidade, assistente de partida em rampa e volante multifuncional. Mas dependeria também de corte nos impostos. A Hyundai quer ganhar mercado e deve aderir.

Peugeot 208 – Na época dos carros de entrada acessíveis, a Peugeot fez sucesso com o hatch 206. Mas hoje a história é diferente. O Peugeot 208 é um carro superior no segmento e a estratégia da marca é ser aspiracional. Poderia ter uma versão popular com motor 1.0 da Fiat e poucos equipamentos, mas é possível que a Stellantis deixe a Peugeot de fora disso, por questão de posicionamento, caso não sofra pressão da rede de concessionários.

Renault Kwid e Renault Stepway – O Renault Kwid é o mais forte candidato a ser um novo carro popular. Porém, o carro é frágil e, por isso, tem quatro airbags. Tirar dois airbags talvez o deixe inseguro. É um carro leve, que tem apenas três parafusos nas rodas e usa motor 1.0 de 68/71 cv. Outra opção seria mexer no Stepway 1.0 de 79/82, que nada mais é do que um Sandero elevado, porém dificilmente a Renault vai investir nisso, pois já tirou o hatch de linha por considerá-lo sem futuro.

Volkswagen Polo Track – Substituto do Gol, o VW Polo Track é uma versão mais barata de fabricar do que o Novo Polo. O hatch tem motor 1.0 de 77/84 cv e seguramente seria o melhor carro popular desta nova fase, em termos de qualidade construtiva. Mas, assim como outras marcas, a Volkswagen está muito mais focada num modelo híbrido e/ou elétrico do que numa volta ao passado.

Uma situação bizarra seria a volta do Gol, como aconteceu com o Fusca no início dos anos 90, mas isso é impossível de acontecer. Trinta anos depois, a indústria automobilística se tornou muito mais sofisticada e não há sequer o ferramental necessário para a Volkswagen ressuscitar o Gol. Fora de questão, portanto.

Conclusão – Como se vê, a volta de um carro popular é muito mais complexa do que imagina nossa vã filosofia, saudosa dos tempos em que a classe média podia comprar um automóvel zero km. É possível que surja alguma coisa, mas o próprio presidente Lula disse recentemente, em entrevista, que pretende discutir profundamente o papel da indústria automobilística no Brasil. E essa discussão não vai ignorar a necessidade de reduzir as emissões de carbono.

Para além disso, mesmo com uma forte redução nos impostos e também redução das margens de lucro, um novo carro popular, em pleno século 21, só seria possível se houvesse também acesso a financiamento sem os juros abusivos determinados anualmente pelo Banco Central e que nem o governo não tem instrumentos para derrubar, embora queira.

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