O empresário Leonardo Manzan explica que a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) inaugura uma nova fase nas políticas de descarbonização e na integração entre direito ambiental e direito tributário. O SBCE estabelece um mercado regulado para compra e venda de créditos de carbono, em que empresas com metas de redução de emissões podem negociar cotas excedentes ou compensar déficits. A medida insere o Brasil em um cenário global de precificação de carbono, aproximando o país das práticas adotadas na União Europeia e em outras economias desenvolvidas.
Esse sistema combina mecanismos de regulação estatal e lógica de mercado, buscando equilibrar eficiência econômica e compromisso ambiental. Ao precificar o carbono, cria-se um incentivo direto à inovação tecnológica e à adoção de processos produtivos mais limpos.
Estrutura regulatória e fundamentos do SBCE segundo Leonardo Manzan
Como observa Leonardo Manzan, o funcionamento do SBCE depende de uma governança clara, com definições precisas sobre setores regulados, metodologias de cálculo e padrões de verificação. O sistema baseia-se em limites de emissões definidos por autoridade competente e na distribuição de permissões negociáveis entre os agentes econômicos.

A credibilidade do modelo está diretamente vinculada à transparência das medições e à integridade dos créditos emitidos. Por isso, a implementação de auditorias independentes e o uso de tecnologias de rastreamento digital são essenciais para assegurar confiabilidade. O registro público das transações, aliado à interoperabilidade entre plataformas nacionais e internacionais, reforça a integridade do mercado e evita dupla contagem de créditos.
A regulamentação ainda deve determinar como será feita a transição entre o mercado voluntário e o mercado regulado. A coexistência desses sistemas exige mecanismos de equivalência que mantenham a liquidez e evitem sobreposição de instrumentos.
Precificação de carbono e impactos econômicos esperados
Na análise de Leonardo Manzan, o principal desafio do SBCE está na definição do preço do carbono. Valores muito baixos tornam o sistema ineficaz, enquanto valores excessivos podem gerar impactos econômicos adversos em setores intensivos em energia. A calibragem adequada depende de critérios técnicos que considerem competitividade, metas climáticas e dinâmica setorial.
A precificação eficiente cria estímulos concretos à inovação e à eficiência energética. Setores que investem em tecnologias limpas poderão comercializar créditos excedentes, transformando a sustentabilidade em ativo econômico. A articulação entre SBCE e incentivos fiscais verdes, como deduções para investimentos em redução de emissões, potencializa o efeito econômico do mecanismo.
Outro ponto crucial é o alinhamento com o Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM) da União Europeia. A compatibilidade entre os modelos pode determinar a inserção do Brasil nas cadeias globais de exportação de baixo carbono, tornando a regulação climática também uma vantagem competitiva.
Desafios jurídicos e fiscais na aplicação do sistema
Conforme salienta Leonardo Manzan, o enquadramento jurídico das transações de créditos de carbono ainda gera dúvidas relevantes. Questões como natureza jurídica dos créditos, incidência de tributos e tratamento contábil precisam de regulamentação detalhada para evitar litígios e garantir segurança às empresas participantes.
Adicionalmente, a arrecadação oriunda de eventuais taxas sobre as operações deve ser vinculada a fundos climáticos e reinvestida em programas de mitigação. Essa vinculação assegura legitimidade e reforça o caráter ambiental do sistema. A ausência de transparência na destinação dos recursos poderia comprometer a credibilidade e reduzir a adesão do setor privado.
A cooperação entre Ministério da Fazenda, Ministério do Meio Ambiente e Banco Central será determinante para estabelecer diretrizes de governança financeira e monitoramento de fluxos de capital associados ao mercado de carbono.
O papel da governança jurídica na consolidação do SBCE
Sob a perspectiva de Leonardo Manzan, o êxito do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões dependerá de uma governança jurídica sólida, pautada por segurança regulatória e transparência institucional. O sistema deve ser construído sobre bases técnicas robustas, garantindo previsibilidade às empresas e estabilidade de preços aos investidores.
A articulação entre normas tributárias, financeiras e ambientais formará a espinha dorsal do modelo brasileiro de precificação de carbono. Um mercado bem regulado e auditável não apenas reduz emissões, mas também estimula o desenvolvimento industrial sustentável e o ingresso do país em cadeias globais de valor verde.
Em conclusão, o SBCE representa um marco na política climática nacional e um vetor de transformação econômica. Com governança adequada e integração entre os setores público e privado, o Brasil poderá consolidar-se como protagonista na transição para uma economia de baixo carbono e financeiramente competitiva.
Autor: Maxim Fedorov