Há pouco mais de 20 anos uma paixão em comum levou um grupo de moradores de Cuiabá a se reunir e fundar um clube que hoje conta com mais de 150 membros. Um evento simples, com cerca de 10 pessoas no recém-inaugurado Parque Mãe Bonifácia, reunia pela primeira vez os membros do Clube do Carro Antigo de Cuiabá, que tinha a intenção de reunir os apaixonados por antigomobilismo.
E ficava babando nos carros e sonhava com aquilo, de ter o meu e poder estar no meio deles
O empresário Luís Henrique de Almeida, de 56 anos, é o presidente e fundador do clube. Almeida, que mudou para Cuiabá em 1996, conta que entre os anos de 1999 e 2000 começou a ir a casa de quem ele, em algum momento, tinha visto dirigindo um carro antigo na intenção de que montassem um grupo. Na época, já tinha quatro veículos antigos, mas não conhecia ninguém com o mesmo interesse em Cuiabá.
Luís conta que tem paixão pelo antigomobilismo desde que nasceu. “Sempre gostei, acompanhei meu pai, minha família, que sempre tiveram carros. O primeiro veículo que tive foi em 1985. Era um Dodge Charger RT 75. Um “V oitão” que não valia nada. De lá pra cá o gosto só aumentou”.
Quem também estava presente no primeiro evento era o madeireiro Lorivo Valdomiro Bataioli, 63, que conheceu Luís Henrique quando chegou a Cuiabá e ficaram amigos tão logo perceberam a afinidade. “[Nessa época] Eu já tinha um modelo antigo, uma ‘Fordinha’ 1931. Comecei com ela, mas fui comprando mais e já cheguei a ter 25”, lembra.
O Clube do Carro Antigo de Cuiabá é o único da Capital filiado à Federação Brasileira de Veículos Antigos. Este ano, o clube participou de três eventos regionais com diversos clubes de cidades do interior. No último final de semana houve mais um encontro regional, desta vez em Sinop.
Outro amante dos carros que frequenta há décadas eventos de antigomobilismo e está no clube desde a época de sua fundação é o empresário Robson Garcia, 52.
Ele se lembra de ter interesse por carros antigos desde o final da infância e de ir a eventos onde morava. “Antes de estar em Cuiabá e no Clube do Carro Antigo, ou seja, há mais de 20 anos, eu já visitava eventos e era envolvido nesse meio do antigomobilismo”, recorda.
Mas se engana quem pensa que esse hobby seduz somente os mais velhos. Além de despertar o interesse e curiosidade de crianças e jovens, atrai também colecionadores de uma geração mais próxima, como é o caso dos advogados André Albuquerque, 37, e Jomas de Lima Júnior, 43.
Diferente de Luis, Lorivo e Robson, eles não chegaram a ver certos modelos que hoje são colecionáveis circulando no dia a dia das cidades quando ainda eram “carro do ano”. Porém a paixão não é menor por causa disso.
“Eu via o pessoal do clube fazendo eventos aqui em Cuiabá, com 17 anos. Ficava babando nos carros e sonhava com aquilo, de ter o meu e poder estar no meio deles. Aí em 2018, já trabalhando, comprei um Opala e me juntei ao grupo”, conta André, que desde criança adora carros antigos.
Jomas começou a se interessar por causa de um Fusca que teve na época de faculdade. “Fiquei com uma boa lembrança, porque, apesar de velho, antigo, era gostoso de andar e não dava dor de cabeça. O tempo passou e hoje virou um hobby”.
Para Jomas, a nostalgia foi o fator decisivo na compra de seu primeiro carro antigo, uma Brasília 1980. “Esse foi o carro da minha família por muito tempo durante a minha infância. Então foi o motivo da minha escolha. [A Brasília] Me traz essa lembrança, uma nostalgia gostosa da infância”, explica.
Porém, diferente de André, que se juntou em 2018, Jomas é o mais novo integrante do clube. Quando falou com o MidiaNews, ele estava em seu terceiro encontro.
Um ponto em comum de todos os entrevistados é o poder de aproximação do carro antigo. Estando no clube e participando de eventos, eles contam como o hobby abriu portas para novas amizades, companheirismo e para reviver velhas lembranças.
O presidente chama a atenção para a amizade. “Onde você parar vem alguém falar com você. Às vezes com lembranças como: ‘Ah meu pai teve um desse, meu tio teve um desse’… Tem muitas historias num carro antigo. Hoje em dia virou moda”.
Robson chama a atenção que o que menos importa é o valor financeiro. “O que interessa é ter o prazer de andar, de conhecer novas pessoas, fazer pequenas viagens e colocar o carro na estrada… Se der problema, todos se ajudam. Isso é um companheirismo e é incrível”, diz.
Por fim Jomas, que antes tinha barcos como seu hobby, não se arrepende de agora entrar no mundo do antigomobilismo. “O carro antigo te conecta com muitas pessoas, você socializa muito mais. Fiz uma boa escolha”.
Boom no mercado
O evento no Mãe Bonifácia no ano 2000 reuniu cerca de 35 veículos. Hoje em dia, os encontros que o Clube do Carro Antigo realizam chegam a reunir mais de 300. “De lá pra cá não paramos mais”, diz o presidente.
Mas não foi só em Mato Grosso que o setor deu esse salto. O mercado do antigomobilismo está aquecido e movimentou R$ 32,6 bilhões no Brasil em 2019, segundo o levantamento mais atualizado, encomendado pela FIVA (Federation Internationale Vehicules Anciens) e executado pela JDA Research.
Luís Henrique explica que a procura desses carros está grande nos dias de hoje e, por consequência, veículos que há 20 ou 30 anos não valiam nada, viram um boom nos seus preços. “Quem conservou esse carro hoje em dia o preço está um absurdo, na faixa dos R$ 200 mil”, afirma.
“Hoje um automóvel que custa R$ 100 mil, 10 anos atrás você comprava por R$ 5 mil. Era um automóvel que as pessoas não valorizavam, deixavam de lado, porque não tinha valor comercial. De uns anos pra cá ficaram valorizados porque o segmento cresceu. Qualquer veículo antigo bem preservado atinge facilmente entre R$ 50 mil e R$ 100 mil”, explica Robson.
O mercado não gira somente nos custos de compra e manutenção dos veículos, mas também nos cuidados. André, por exemplo, tem uma grande despesa mensal com aluguéis para deixar seus modelos guardados.
“Para armazenar nos viramos. Eu alugo três vagas de estacionamento do meu condomínio e alugo também vagas mensais em estacionamento privado, onde tem mais colecionadores que alugam. O lugar pra guardar é importante porque não se pode deixar o veículo no sol ou sem segurança na rua”, detalha André.
O modelo mais antigo
Cada colecionador entrevistado revelou qual o modelo mais antigo que já teve em algum momento enquanto colecionador.
O presidente conta que já teve um carro do ano de 1929 e que, no clube, há associados que têm raridades das décadas de 1920 e 1930.
O veículo mais antigo de Robson foi um Ford Galaxie 1967. O de André, que tem atualmente 11 veículos antigos, são dois modelos de 1978: um Ford Corcel 2 e uma caminhonete Chevrolet S10 cabine dupla.
O veículo de Jomas é de 1980, ano em que ele nasceu, e o de Lorivo data de um modelo bem mais antigo, um Ford do ano de 1931.